Você sabia que a transfusão é o procedimento realizado com maior frequência em pacientes internados e está associada a um número considerável de complicações imediatas e tardias?
Lembre que a segurança da transfusão é responsabilidade de toda a equipe envolvida com o atendimento do paciente e não é um problema somente do serviço de hemoterapia. Todos precisam fazer bem o seu papel para que o risco seja o menor possível.
Por definição da legislação sanitária brasileira e determinação técnica do Ministério da Saúde, um serviço de Hemoterapia só está autorizado a liberar um hemocomponente para transfusão mediante solicitação por escrito, com nome legível e completo do médico responsável, sua assinatura e seu CRM. A solicitação deve conter nome completo do paciente, prontuário, localização hospitalar, idade, sexo, peso, história transfusional, diagnóstico, justificativa da transfusão, componente solicitado, volume e recomendações especiais para desleucocitação (filtração), irradiação, fenotipagem, aliquotagem ou lavagem do componente. Arquivada por 20 anos.
A infusão do hemocomponente é feita por punção venosa através agulhas ou catéteres com calibre suficiente para permitir fluxo apropriado para transfusão de todo o volume prescrito e respeitar o tempo máximo de infusão que é de 4 horas. Se a infusão não ocorrer completamente em 4 horas a trasnfusão deve ser interrompida.
O acesso deve ser exclusivo. Não há contraindicação para a utilização de acesso central, quando necessário.
Para a infusão de hemocomponentes é obrigatória a utilização de equipos apropriados para a transfusão. Esses equipos contêm filtros de 170-260 µ para microagregados e partículas e dupla
câmara flexível, que permite também o controle do gotejamento. Devem ser trocados após a transfusão de cada unidade de concentrado de hemácias ou a cada 4 horas. Bombas de infusão podem ser usadas com equipo apropriado, quando necessário.
O tempo máximo de infusão de plasma, concentrado de hemácias e plaquetas deve ser de quatro horas e a velocidade deve ser ajustada de acordo com comorbidades e risco de sobrecarga circulatória. O crioprecipitado deve ser infundido com gotejamento aberto. Na hemorragia grave a infusão pode ser rápida. Cuidado! Todo hemocomponente expande volume!
A velocidade de infusão deve considerar o estado hemodinâmico e reserva cardíaca do paciente e se ele pode suportar o volume infundido respeitando o tempo máximo de infusão. Em pacientes com hemorragia grave e choque, o tempo está relacionado ao acesso venoso e a infusão deve ser rápida. Caso a situação clínica não permita respeitar o tempo de infusão para o volume desejado, pode-se aliquotar a unidade.
A linha para infusão de hemocomponentes deve ser exclusiva. Fluidos hipotônicos, como solução de glicose a 5%, podem desencadear hemólise e fluidos que contém cálcio como ringer-lactato podem desencadear a formação de grumos e partículas durante a infusão. Não é permitido adicionar quaisquer medicamentos ou outras soluções ao hemocomponente ou compartilhar a linha de infusão.
A bolsa nunca deve ser aquecida diretamente. O aquecimento do equipo é feito e a 37ºC durante a infusão, sem ultrapassar 40ºC está indicado apenas na infusão superior a 100 mL/Kg/hora ou 15 ml/kg/h em pediatria, exsanguíneotransfusão e em pacientes com aglutininas frias clinicamente significantes. Infusores com pressão controlada de até 300 mmHg distribuída ao longo da bolsa podem ser usados quando há necessidade de infusões muito rápidas. Pressionar a bolsa com a mão ou manguitos pode causar o rompimento do componente.
Após conferir identificação do paciente, do componente e prescrição, medir e registrar sinais vitais do paciente. Na transfusão de hemácias manter 10 -15 gotas por minuto por pelo menos 10 minutos e ficar ao lado do paciente. e ajustar a infusão de acordo com a prescrição monitorando o paciente a cada 30 minutos. No paciente com sangramento grave, não há necessidade de infusão lenta no início, já que o atraso na transfusão pode prejudicar o cuidado transfusional adequado.
Plasma e crioprecipitado devem ser descongelados antes da transfusão a 37°C em equipamento exclusivo, envolvendo-se a bolsa em saco plástico apropriado, com o local de entrada do equipo mantido fora da água. Após o descongelamento, usar o mais rapidamente possível. Transfundir crioprecipitado em até 6 horas do descongelamento e manter a temperatura ambiente e plasma em até 24 horas quando mantido a 4ºC. Não é possível recongelar os componentes após o descongelamento.
Os motivos que levaram à decisão de transfundir devem ser claramente registrados pelo médico na evolução do paciente, considerando sua situação clínica e resultados laboratoriais que embasem a indicação. Lembre que cada cada transfusão é um ato médico distinto. Em pacientes sem sangramento grave, a evolução do paciente deve conter claramente a razão de cada nova transfusão.
A prescrição deve detalhar o tipo do componente, volume, gotejamento, velocidade de infusão, medicações e outros cuidados associados. Volume e velocidade de infusão são ajustados à condição clínica do paciente e tempo máximo de infusão de quatro horas. No paciente sem sangramento grave a infusão de hemácias deve ser lenta (10-15 gotas/minuto) nos primeiros dez minutos, com supervisão ativa do paciente.
Contém os dados de identificação do paciente, do componente (número, tipo e classificação sanguínea), testes pré-transfusionais realizados e nome do responsável por cada etapa da preparação e liberação da bolsa. Deve ser conferida com dupla checagem antes da transfusão e permanecer afixada à bolsa de forma visível até o final do procedimento. Após o término da transfusão deve ser afixada ao prontuário.
Esse registro permanece na Agência Transfusional e contém dados relativos ao histórico de transfusão do paciente, fenotipagem, anticorpos irregulares, reações transfusionais e necessidade de cuidados em transfusões futuras, como a modificação de hemocomponentes. No Hemoce, a ficha do receptor é informatizada e está disponível para consulta em todos os serviços transfusionais vinculados.
Para todo hemocomponente transfundido devem ser registrados o horário de início e fim do procedimento e os sinais vitais do paciente (pressão arterial, frequência cardíaca e temperatura) pelo menos imediatamente antes do início e logo após o término da transfusão. Esse registro pode ser feito na evolução, em formulários específicos para o monitoramento da transfusão ou na ficha do anestesiologista.
Cada transfusão gera registros que ficam arquivados no serviço de hemoterapia por pelo menos 20 anos.
A rastreabilidade da transfusão é obrigatória para que seja possível, a qualquer momento, identificar qual o doador e qual o paciente envolvidos em cada procedimento específico. Apesar de esses serem dados sigilosos, o hemocentro responsável pela produção do hemocomponente e o hospital onde o paciente foi transfundido devem ser capazes de estabelecer esse vínculo para estudo de reações transfusionais tardias.
O conteúdo deste site corresponde ao Manual de Uso Racional de Sangue
DIRT GER 03
Centro de Hematologia e Hemoterapia do Ceará – HEMOCE
2ª Revisão (08/04/2022).
Elaborado por: Luciana Carlos Revisado por: Luany Mesquita Aprovado por: Denise Brunetta
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